sábado, 19 de janeiro de 2013

Góticos, a vida em preto!


Roupa preta, crucifixo no pescoço, rosto pálido, expressão triste. Seria ele de uma seita satânica, um padre, ou um louco? Nada disso. Este é o estilo de um gótico, tribo que a cada dia ganha mais adeptos. Carregados de preconceitos, os góticos constituem uma “subcultura” mal compreendida, que foi adotada por muitos jovens brasileiros. Esta cultura é muito mais uma opção estética do que uma escola artística específica.
Entretanto, o movimento gótico, que adotou linhas arquitetônicas com perspectivas verticais, especialmente em catedrais, e concebeu livros sombrios, pode ser considerada uma corrente da arte.
Historicamente o termo gótico tem sua origem na arte medieval, presente nos séculos XIII e XIV, que sucedeu o estilo românico (séculos XI e XII). Esse estilo conhecido como opus francigenarum ou “obra francesa”, entrou em decadência quando, com a
Renascença, surgiu o entusiasmo pela Antiguidade Clássica e o desprezo pela Idade Média, considerada bárbara e obscura. Os godos faziam parte de uma antiga tribo germânica de bárbaros e, portanto, denominar a “obra francesa” como gótica (o nome provém dos godos) era dar a esta arte um sentido pejorativo.
No entanto, com o movimento romântico do século XIX os valores do classicismo foram afrontados e cederam espaço para uma “reabilitação” da Idade Média e de seu imaginário. Os artistas dessa
corrente tornaram-se também responsáveis pelo surgimento da gothic novel, literatura normalmente ambientada em castelos sombrios e ambientes tenebrosos.
A arquitetura foi a principal expressão da Arte Gótica, que se propagou por diversas regiões, sobretudo com as construções de imponentes igrejas, sendo a de Notre Dame, em Paris, a mais conhecida.
Essas construções refletiam a crença na existência de um Deus superior, por isso a projeção para o céu, o arco em ponta, as ogivas, as histórias sagradas representadas em vitrais, a desmaterialização das paredes e a atenção com a distribuição da luz no espaço.
Paralelamente à arquitetura das igrejas desenvolveu-se a escultura
gótica. Presente nas fachadas e portais das catedrais e que se caracterizava pelo naturalismo e pela tentativa de expressar a beleza ideal do divino. 

A música e a literatura

Mais recentemente, a música também surgiu como uma grande influência do estilo gótico, no final da década de 1970 e início de 1980, a raiva e a agressividade, que incendiavam o movimento punk, começaram a ceder lugar a uma profunda  depressão, um sentimento de insatisfação, além da falta de perspectiva do outro. O porta voz destes angustiados vai surgir, então, em Manchester, na
Inglaterra. Ian Curtis e sua banda Joy Division são os primeiros a transformar essa melancolia e desilusão em música. Ian suicidou-se em 18 de maio de 1980, dois dias antes da turnê do Joy Division pelos EUA.
No interior do movimento pós-punk, subestilo musical do rock, existem as mais representativas bandas do chamado “estilo gótico”, com suas canções sobre melancolia, desespero, abandono e decepções amorosas. A consolidação do gótico enquanto gênero musical, no entanto, deu-se com o grupo Bauhaus e seu primeiro single, que fazia alusão à morte, morcegos e vampiros.
A sonoridade pulsante e anárquica, temperada com partículas de música erudita, e mesclada a elementos sombrios de introspecção, demarcaria esse estilo. Dentre os representantes do gênero,
destacam-se: The Sisters of Mercy, Siouxsie Sioux, Anja Howe, The Cure e outros. A partir da metade da década de 1990, começam a surgir bandas que usam a morte e os sentimentos profundos do ser
humano como tema, mas estas foram intituladas como gothic metal e doom.
A literatura também tem um papel importante quando se trata de góticos. Inspirados pelo Romantismo e com a intenção de se contrapor aos valores da sociedade burguesa, o movimento
“ ressuscitou” em suas páginas o ambiente da Idade Média. Satanismo, mistério, morte, sonho, loucura e degradação são temas recorrentes nas obras cultuadas pelos góticos. Como as primeiras
publicações do gênero, no século XVIII, eram ambientadas em castelos medievais sombrios, foi usada a expressão “gótica” para definir essa tradição.
Um exemplo clássico é Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo (1831), no qual Quasímodo, o protagonista corcunda, tem um aspecto monstruoso e vive recluso na Catedral de Nossa Senhora, em Paris, uma tradicional construção gótica.
Mas o livro precursor do gothic novel é O castelo de Otranto (1764) do inglês Horace Walpole (1717-1797).
O enredo gira em torno de um castelo, apropriado indevidamente pelo príncipe Manfred, que é impedido de ter a posse definitiva do lugar devido a uma antiga maldição. Outros autores que fazem parte da biblioteca de um gótico são William Beckford (1760- 1844), Ann Radcliffe (1764-1823), Gregory Lewis (1775-1818) e Edgar Allan Poe (1809-1849). No Brasil, essa tradição é representada por algumas obras de Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, Bernardo Guimarães e Junqueira Freire, essencialmente.

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