sábado, 2 de março de 2013

Solitude não é solidão...


Solitude é o estado de privacidade de uma pessoa, não significando, propriamente, estado de solidão.

Pode representar o isolamento e a reclusão, voluntários ou impostos, porém não diretamente associados a sofrimento.

Solitude é o isolamento ou reclusão voluntário, quando o indivíduo busca estar em paz consigo mesmo. Diferente da solidão que em sua essência é o estado emocional do indivíduo que deseja ardentemente uma companhia e não a tem. Um indivíduo pode estar cercado de amigos, em meio a um salão de festas muito animado, e ainda assim estar corroído pela solidão.

Em alguns casos, o indivíduo escolhe isso pelas experiências que lhe foram desagradáveis em algum tempo atrás. Sendo então a solitude uma maneira de evitar que o mesmo incidente ocorra novamente. 

 Bem pouco usual para a maioria dos brasileiros, a palavra solitude pode bem ser o aloneness do inglês. Embora também exista no espanhol com o mesmo sentido da nossa solidão ou do loneliness, a solitude foi introduzida na língua portuguesa para designar exatamente a solidão do silêncio intencional, com alguma finalidade positiva.

          Eu vejo em solitude uma palavra belíssima, imponente, poética. Gosto, inclusive, por que tem a grafia e a sonoridade parecidas com outra palavra que uso muito: solicitude (qualidade de quem é solícito, de quem tem atenção, delicadeza, consideração). Dá até para arriscar que a solitude é uma espécie de solicitude consigo mesmo; um instante de atenção que todas as pessoas deveriam dispensar a si próprias em muitos momentos de suas vidas.

          A verdade é que por solitude ser uma palavra bem pouco usada, termina prevalecendo a palavra solidão com toda a sua força histórica. Muito provavelmente por isso praticamente não existe alguém que admita ser solitário. É compreensível, já que se admitir assim é, de alguma forma, admitir-se derrotado ou desdenhado pela sociedade. Em sã consciência ninguém deseja a solidão neste contexto.

Infelizmente, não são muitos os que chegam a este grau de auto-conhecimento. Até porque este tipo de conhecimento requer muita humildade para vencer o orgulho nefasto que cega as pessoas e as impede de ver seus próprios defeitos e limites. É maravilhoso alguém ter consciência de que tem assuntos pendentes consigo mesmo e querer encontrar tempo e espaço para encará-los.

Compartilho desse pensamento e reforço que só se tem a ganhar na busca pela solitude. Vale a pena aprender a estar sozinho, até para enfrentar os momentos de real solidão – que sempre surgem pela perda de um ente querido, pelo fim de um amor ou por um certo vazio existencial inexplicável.

Mussak (educador e escritor ) diz o seguinte: “foi quando estava só que eu tive os grandes momentos de inspiração, tomei as principais decisões de minha vida, cheguei mais fundo na análise de minhas angústias, experimentei o prazer de minhas certezas. É quando estou só que a leitura faz mais efeito e a escrita flui com naturalidade. Sozinho, percebo que a música está tentando me fazer companhia. Foi na imensa solidão de meu pequeno quarto de adolescente que decidi que iria dedicar-me a algo que envolvesse a alma humana”.





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